Pesquisar este blog

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Opinião sobre a audiência pública sobre o contorno rodoviário do Cabo.

A audiência pública é um momento no qual se busca apresentar o conteúdo do EIA/RIMA, tornando-o de conhecimento público e fazendo com que o projeto proposto seja alvo de sugestões e críticas, auxiliando no processo decisório realizado pelos órgãos ambientais, tornando a coletividade capaz de opinar e participar das decisões administrativas. Tal audiência deve esclarecer acerca dos impactos provocados por um determinado empreendimento ou atividade, mostrando as medidas mitigadoras e compensatórias necessárias para minimizá-los.
No dia 7 de outubro, ocorreu no SESI do Cabo a 12ª audiência pública realizada nos últimos quatro anos pela Agência Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (CPRH), visando discutir a implantação do contorno rodoviário do Cabo de Santo Agostinho que engloba a chamada “via expressa”. Segundo dados contidos no projeto do empreendimento, a nova rodovia contornará a cidade do Cabo pelo lado leste, permitindo que o fluxo de veículos pesados seja desviado, minimizando tal circulação na BR-101 e na PE-060.
Inicialmente, os principais objetivos do contorno rodoviário foram expostos, que seriam: desafogar o trânsito e garantir a segurança dos turistas que visitam a região. Em seguida, foram apontadas as três entidades solicitantes da audiência pública - a Associação Amigos da Lagoa, a Sociedade Nordestina de Ecologia (SNE) e a Associação dos usuários de planos de saúde – e um tempo de 20 minutos foi disponibilizado para que as duas primeiras apresentassem os motivos pelos quais requereram tal audiência.
Em meio a justificativas - um tanto quanto vazias - no que concerne à sustentabilidade dos empreendimentos que chegam ao Estado em decorrência do desenvolvimento de Suape, o diretor do Complexo Industrial Portuário (CIPS) realizou uma explanação acerca do projeto, afirmando que o “crescimento vem ocorrendo de maneira sustentável”. Tal problemática, no entanto, não foi largamente discutida pelo diretor e consultores do projeto, visto que dados e informações concretos não foram utilizados para embasar as declarações referentes ao porquê de se enquadrarem como empreendimentos sustentáveis.
De acordo com o relatório de Brundtland, desenvolvimento sustentável é aquele que “assegura a sobrevivência das gerações atuais sem comprometer as gerações futuras”, devendo ser socialmente justo, economicamente viável e ecologicamente correto. Dessa forma, afirmar que tal desenvolvimento é “sustentável” – justificado pelo incentivo às práticas de reuso de água ou de reciclagem de materiais – e considerando somente o viés “ecológico”, acaba sendo uma questão excludente, desconsiderando importantes problemáticas, visto que o desenvolvimento sustentável não deve ser aquele no qual o foco internaliza apenas as questões puramente ecológicas, devendo envolver conceitos mais amplos. Alegar que parte das obras que chega à Suape corrobora com um desenvolvimento ecologicamente correto e socialmente justo, negligencia importantes questões que devem ser discutidas. Como afirmar que a construção do contorno rodoviário não implica em “injustiças sociais”, visto que populações terão que ser realocadas para a chegada do “progresso”, ou, tal como apresentado pelo filme “Narradores de Javé”: “Os milhões beneficiados eu não sei, mas os tantos do sacrifício somos nós”.
Por fim, deve-se dizer que, apesar de bastante organizada, a audiência não cumpriu seu principal objetivo: esclarecer os principais pontos acerca dos impactos do projeto e as medidas compensatórias e mitigadoras. Tal objetivo não se cumpriu visto que toda a discussão ocorreu de maneira confusa e pouco aprofundada. A extensão de Mata Atlântica existente na área de influência direta do empreendimento, por exemplo - e que vai ser desmatada - foi tratada com desprezo, sendo denominada como “área antropizada”. Além dos fatores já explicitados, pode-se dizer que o evento esteve restrito praticamente aos estudantes, professores e interessados, não abarcando grande parte da coletividade, expondo a necessidade de uma maior divulgação quanto à realização de discussões dessa natureza que contribuem para o exercício da cidadania.

Por: Naia Lua.

6 comentários:

  1. Sucintez passa longe, sempre.
    (Nilson e Mari, valeu pela ajuda :) )

    ResponderExcluir
  2. Depois de tanto esperar por esse texto, acabei nem comentando :P
    Mas, tudo bem, já debatemos no msn! esahoiheasesa

    ResponderExcluir
  3. Isso só me remete à situação do Recife (não tenho embasamento para estendê-la a nível da união, mas creio não ser diferente) no que refere-se à realização eficiente e eficaz de grandes audiências públicas.
    Conforme Ferraz (2010), em seu texto "Questões polêmicas nas audiências públicas ambientais", a audiência pública que configura-se como uma etapa do procedimento administrativo de licenciamento ambiental, é corolário direto dos princípios da participação e da informação, que – enquanto vetores do direito à democracia – encontram na temática ambiental destacada importância. Isso, então, como bem sinalizado no teu texto, Naia, acaba por transpassar pela cidadania. Esta cidadania é entendida aqui como "à condição do indivíduo possuir direitos e deveres perante um estado", estando ele submetido às leis da sociedade. Neste aspecto, nós cidadãos deveríamos ter as condições ideais e não distorcidas para promover o exercício da democracia, não dissociada, é claro, da cidadania, em eventos como estes, evidentemente importantes.
    Ferraz (2010) ainda nos lembra que é importante ter claro, inicialmente, que a abertura de espaços para a democracia participativa potencializa as possibilidades reais da população de realizar seu direito à voz, porém "inexiste participação efetiva sem informação precisa e exauriente, a ser ofertada no nível adequado à compreensão dos atingidos, máxime quando se tratar de audiência pública". Isto é, sem as informações imprescindíveis sobre a obra (incluindo principalmente seus impactos) a discussão - na audiência publica - acaba por esvaziar-se.
    As audiências públicas são notoriamente importantes, no contexto da efetivação dos instrumentos de participação popular, e isso impõe discussão e esclarecimento dos temas polêmicos (Ferraz, 2010). Então, minha esperança não cessará, e eu esperarei que em algum dia as audiências públicas, de fato, irão promover o debate com a coletividade e irá se atentar para todas as questões sejam ela de cunho ambiental, social ou econômico

    ResponderExcluir
  4. Essa democracia participativa potencializa não só as possibilidades reais da população de realizar seu direito à voz bem como abre espaço para discussões aprofundadas e transformações das realidades. Enquanto o público das audiências for composto apenas pelos diretamente interessados no projeto, o exercício da cidadania - como tanto falou Adauto nas aulas - acaba ficando restrito. Dessa maneira, devemos fazer um "esforço" para que essas informações e esses debates sejam expandidos (tal como discutimos também no tópico das Unidades de Conservação, visto também se tratar de direitos da socidade), facilitando o entendimento por parte da sociedade do que vem ocorrendo no âmbito estatal e a partir de então, seja possível ocorrerem sugestões e transformações.

    ResponderExcluir
  5. O que fica evidente também, é que enquanto não construirmos espaços para debates amplos e abertos não será possível alcançarmos a participação efetiva da coletividade. Quando falo participação, quero dizer uma participação real. Debatendo; questionando; fazendo ouvir sua voz, e não apenas uma presença como mero coadjuvante ou figurante, para fazer cena. Assim, enquanto não tivermos uma educação efetiva para a formação de cidadãos, enquanto não tivermos uma educação verdadeiramente ambiental - em seu sentido mais amplo e profundo - não poderemos ter essa real participação e a efeticação da cidadania.

    ResponderExcluir